sexta-feira, março 31, 2006

As ervilhas, as princesas, as barbies


Foi assim que tudo começou no final de mais uma tarde de trabalho
Partilhar poesia, partilhar palavras e afectos é indubitavelmente das melhores coisas que podemos ter...Obrigada

Tenho medo, de Maria do Rosário Pedreira

Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão devagar sobre o peito da terra e sente respirar no seu seio os nomes das coisas que ali estão acrescer: o linho e genciana; as ervilhas -de-cheiro e as campainhas azuis; a menta perfumada para as infusões do verão e a teia de raízes de um pequeno loureiro que se organiza como uma rede de veias na confusão de um corpo. A vida nunca foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo. Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor da tempestade que faz ruir os muros: explode no teu coração um amor-perfeito, será doce o seu pólen na corola de um beijo, não tenhas medo, hão-de pedir-to quando chegar a primavera.


A Princesa e a Ervilha


Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa — mas tinha de ser uma princesa verdadeira. Por isso, foi viajar pelo mundo fora para encontrar uma, mas havia sempre qualquer coisa que não estava certa. Viu muitas princesas, mas nunca tinha a certeza de serem genuínas; havia sempre qualquer coisa, isto ou aquilo, que não parecia estar como devia ser. Por fim, regressou a casa, muito abatido, porque queria uma princesa verdadeira.
Uma noite houve uma terrível tempestade; os trovões ribombavam, os raios rasgavam o céu e a chuva caía em torrentes — era apavorante. No meio disso tudo, alguém bateu à porta e o velho rei foi abrir.
Deparou com uma princesa. Mas, meu Deus!, o estado em que ela estava! A água escorria-lhe pelos cabelos e pela roupa e saía pelas biqueiras e pela parte de trás dos sapatos. No entanto, ela afirmou que era uma princesa de verdade.
— Bem, já vamos ver isso — pensou a velha rainha. Não disse uma palavra, mas foi ao quarto de hóspedes, desmanchou a cama toda e pôs uma pequena ervilha no colchão. Depois empilhou mais vinte colchões e vinte cobertores por cima. A princesa iria dormir nessa cama.
De manhã, perguntaram-lhe se tinha dormido bem.
— Oh, pessimamente! Não preguei olho em toda a noite! Só Deus sabe o que havia na cama, mas senti uma coisa dura que me encheu de nódoas negras. Foi horrível.
Então ficaram com a certeza de terem encontrado uma princesa verdadeira, pois ela tinha sentido a ervilha através de vinte edredões e vinte colchões. Só uma princesa verdadeira podia ser tão sensível.
Então o príncipe casou com ela; não precisava de procurar mais. A ervilha foi para o museu; podem ir lá vê-la, se é que ninguém a tirou.
Aqui têm uma bela história!

Hans Christian Andersen

quinta-feira, março 30, 2006

"Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira

"Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira." Cecília Moraes

Eu ainda procuro aprender a voltar sempre inteira, até agora tenho perdido pedacinhos de mim nas viagens do desconhecido...mas quando eles me reencontram estão diferentes e já não fazem parte do meu puzzle, fazem parte de Ti, de nós, do mundo!
Hoje foi um daqueles dias em que me senti fantástica, linda e maravilhosa! Pois...também tenho dias de egocentrismo puro! Já sei...o meu espelho anda a enganar-me...Ehehhe
Também que melhor início de dia podia desejar, acordar com os meus anjinhos...


Momento da partilha...
Quando o nosso peito se aperta, quando as saudades começam, mesmo quando ainda estamos juntos, mas quando sabemos que estamos a um segundo de tudo perder e tudo poder ganhar...
À noite olha para as estrelas, elas vão iluminar-te no teu sono e sussurrar-te ao ouvido que a vida é linda, aproveita tudo!

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.

Sophia
de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, março 29, 2006

7 anos depois

O tempo passa rápido de mais!
A 29 de Março de 1999 preparavamos o regresso a Lisboa depois de alguns dias na maravilhosa cidade de Ponta Delgada. 7 anos voaram entretanto...
Hoje, dei por mim a recordar aqueles dias emocionantes e recheados de alegria. O tempo avançava muito mais do que nós. Tínhamos sede de viver, de nos perdermos no meio dos vulcões, na paisagem verde.
Foi uma viagem a 3, eu, Sofia e Bárbara. Estávamos no final do curso...
Entretanto a vida continuou, afastou-nos umas das outras...A Sofia casou com o Hugo, tem um filhote lindo, o Henrique. Da Bárbara nada sei.
Mas acredito que os verdadeiros amigos não se esquecem, mesmo que não nos vejamos, basta um segundo, duas palavras, um sorriso e aquele abraço.
Sofia, também quero aproveitar esta oportunidade de sermos amigas como eramos.
Para todos aqueles que merecem a minha amizade...
Procura-se um amigo
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
Vinicus de Moraes

FIlme com cheiros, cor e muito sentimento

Final da tarde, uma sala enorme e apenas quatro cadeiras ocupadas!
O filme começa, o silêncio impera até que a alegria invade e os risos tomam conta da sala!
«Procuro um momento que dure uma vida» afirma Casanova. Quem não procura?
Um elenco delicioso em que se destaca Jeremy Irons, para mim a surpresa do elenco, num registo a que não estamos habituados vê-lo.
A chuva que cai no ecran quase nos molha, sentimos o vento, voamos no balão de ar quente...partilhamos sorrisos e vibramos com as conquistas! Sensações dificeis de explicar para quem ainda não viu o filme, mas quem já teve a oportunidade percebe aquilo que escrevo. Não é Carla?
Uma música lindíssima, um guarda-roupa da época fascinante (como diria um amigo...comentários de rapariga fútil...lol) e principalmente uma cidade maravilhosa - Veneza, a cidade dos apaixonados!
Três ingredientes: amor, aventura e boa disposição!

Moral da história: Vale sempre a pena esperar por alguém!

The end

terça-feira, março 28, 2006

Notas e melodias com cor

Tenho uma estranha mania de para cada momento da minha vida ter uma música.
Basta ouvi-la e revivo cada momento, sorriso, lágrima...Consigo viajar nas notas e nas melodias...
Quanto mais quero esquecer um momento, mais a música soa no meu rádio, na minha cabeça, na minha memória...
As recordações não são apagadas com facilidade, ficam como este desenho do Lucas, o meu príncipe que me faz acreditar no Futuro!
Esta música é de tal forma forte que hoje dei por mim no trabalho a ouvi-la sem mais ninguém a ouvir!!
Cannonball de Damien Rice

Still a little bit of your taste in my mouth
Still a little bit of you laced with my doubt
Still a little hard to say what's going on

Still a little bit of your ghost your witness
Still a little BIT of your face I haven't kissed
You step a little closer EACH DAYS
till I can't SAY what's going on

Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannonball

Still a little bit of your song in my ear
Still a little bit of your words
I long to hearYou step a little closer TO ME
So close that I can't see what's going on

Stones taught me to
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannon

Stones taught me to fly
Love taught me to cry
So come on courage!
Teach me to be shy
'Cause it's not hard to fall
And I don't WANNA scare her
It's not hard to fall
And I don't wanna lose
It's not hard to grow
When you know that you just don't know

segunda-feira, março 27, 2006

O primeiro de muitos

Hoje, depois de tantas viagens pelos blogs dos outros, decido criar o meu próprio espaço!
Não sei bem o que escrever...

Garras dos sentidos

Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.

São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.

Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.
São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.

Dá má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.

Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.

Agustina Bessa-Luís
Beijinhos